Palavra de mulher: Paula Teixeira

Paula Teixeira – http://paulateixeira.yolasite.com/ (@paulagilmore) é apaixonada por teledramaturgia desde uns 4 anos de idade! Fez dessa paixão um objetivo profissional. Especialista em Comunicação pela UFMG, ainda não trabalha com novelas e séries (mas escreve textos e análises sobre teledramaturgia)e já está no mundo da TV, do vídeo e do cinema. Com 27 anos, espera que, neste ano, a grande oportunidade apareça! Nessa entrevista ela nos ajuda a entender um pouquinho do fascinante mundo das telenovelas.

Como você acha que a telenovela influencia a vida do brasileiro?

A telenovela é a evolução do estilo folhetim, um tipo de publicação dos jornais franceses que começou em meados do século 19. Na América Latina, não só no Brasil, a telenovela tem muita influência no dia a dia e na história de seu povo. Mas há uma diferença entre as novelas brasileiras e as produzidas em outros países, especialmente o México. Desde Beto Rockfeller (1968/1969), as tramas brasileiras discutem valores da sociedade, questões sociais e trabalham com enredos mais complexos se comparados com os feitos em países como México e Argentina.

Novelas como “Vidas Opostas” (Rede Record) que mostrou um pouco da realidade das comunidades cariocas – antes da instalação das UPPs -, e “Sinhá Moça” (Rede Globo) que contou, de forma romanceada, a disputa entre republicanos e monarquistas e a libertação dos escravos mostram o estilo brasileiro de fazer ficção televisiva. Só com esses exemplos, já é possível perceber que a telenovela conta em estórias a história do Brasil e é uma leviandade pensar que é um produto de massa, vazio.  Ele é feito para entreter, mas traz em si discussões e camadas de interpretação variadas. Como telespectador, você pode se prender apenas na estorinha de amor entre os protagonistas ou, então, enxergar as reflexões sobre família, sociedade e outras mais que completam a narrativa da trama.

E na vida da mulher especificamente, quais os efeitos que você acha que a novela provoca?

Observando as pesquisas de mercado da TV Globo, por exemplo, sobre os públicos de cada horário, há uma prevalência do público feminino, especialmente do programa das 18 horas da emissora. Essa predominância cai quando chegamos ao horário das 21 horas, que é mais abrangente. A maioria das protagonistas são mulheres, especialmente nas novelas hispânicas. No Brasil, existe também esse enfoque, mas temos protagonistas ou antagonistas de destaque homens. Nas atuais, Rodrigo (Gabriel Braga Nunes) é o protagonista de “Amor Eterno Amor”, enquanto na novela principal, “Avenida Brasil”, o destaque é Nina (Débora Falabella). Algumas novelas colocam mulheres protagonistas fracas, ingênuas e até bobas, mas outras exploram a faceta de mulheres fortes e lutadoras. Exemplos dessa última: “Tieta”, “A Indomada” (Helena) e “Laços de Família” (Helena)

As telenovelas influenciam as mulheres com essas representações diversas do gênero,  para o bem ou para o mal. Mas como falei na resposta anterior, tudo depende das leituras que são feitas. A telespectadora pode apenas prestar atenção no batom, no figurino, mas também pode ultrapassar essa primeira camada e refletir sobre sua própria vida ao acompanhar a trajetória da personagem. Os processos de identificação (quando nos identificamos com o personagem ou estória do personagem) e projeção (quando colocamos no personagens nossos desejos ocultos) participam dessa dinâmica, que pode ser superficial ou profunda.

Sabemos que as novelas também tem grande influência na moda e beleza. É comum ver pessoas querendo saber mais sobre o batom de tal personagem e não raro uma roupa usada em alguma trama vira tendência. Por que isso acontece?

A maior parte das novelas brasileiras retrata os dias atuais. As narrativas e a linguagem são naturalistas, ou seja, são uma espécie de cópia da realidade. A gente assiste a uma espécie de cotidiano mediado. Apesar de todo mundo já acordar maquiado e poucas cenas de trabalho aparecerem, há uma identificação com esse dia a dia. Geralmente, as roupas e acessórios femininos já são escolhidos para criar ou reafirmar uma moda. Se na moda, já vão investir em saias e pulseiras, por exemplo, a novela vem reafirmando essa moda, aplicando-a na caracterização de algum personagem de destaque. Existem ainda as modas específicas, como a que ocorreu com a novela “O Clone”. O encantamento com a cultura árabe lançou a moda daquela cultura no Brasil. “Todo” mundo usava algum adereço da Jade na época!

O que você acha que a mulher brasileira busca quando assiste uma novela? Por que alguns personagens tem um impacto tão grande sobre as telespectadoras?

É como falei anteriormente, existe o processo de identificação e projeção. A Jade de “O Clone”, por exemplo, era uma mulher sedutora, apaixonada, que vivia tentando superar obstáculos, como todas nós. Isso ajuda na identificação. A novela “A Vida da Gente” dividiu o público feminino entre as duas co-protagonistas. Quem já sofreu com problemas parecidos com os de Manuela (Marjorie Estiano), como a rejeição, pode ter se identificado mais com ela. Quem admira mais a maturidade também. No entanto, existia também a Ana (Fernanda Vasconcellos) que precisou superar diferentes desafios, sendo que retomar a vida após o coma era o maior. A beleza da atriz, o carisma dela adicionado ao enredo fez com que muitos torcessem por Ana.”A Vida da Gente” foi uma novela interessante e todo o universo era bem feminino. As co-protagonistas eram bastante humanas e a estória, apesar de parecer a princípio um dramalhão mexicano, fez uma belíssima discussão sobre os vínculos familiares. Esse conjunto é um exemplo de estória que pode “pegar de jeito” o telespectador, tanto mulher como homem, pois fala de problemas comuns a todos nós.

6 comentários em “Palavra de mulher: Paula Teixeira

  1. Todo um Edgar Morin aí presente nesta análise…amei!!! Adoro novela e concordo com a Paula, às vezes a gente pode extrair um pouco mais do que só acompanhar a história de amor.Existem novelas que vão cumprir seu papel ali na hora, mas vão cair no esquecimento, outras vão ficar tão marcadas que vão fazer parte da memória cultural de uma geração. O mistério “Quem matou Odete Roittman?” ficou anos a fio no nosso dia a dia, até quem não tem idade pra ter visto a novela já deve ter ouvido falar nisso em algum momento. Mesmo qdo não trazem um conteúdo profundo, que sejam só para entretenimento, elas têm seu valor, afinal divertir-se é importante tb e para muita gente talvez elas sejam a única possibilidade de entretenimento. Muitos personagens e bordões de novelas ficaram marcados para mim e constituem uma lembrança doce da minha infância. Eu morria de medo da “mulher de branco” (novela Tieta). E Carrossel? Atire a primeira pedra quem não se compadeceu do Cirilo e odiou a Maria Joaquina! Entre as minhas favoritas estão “O Cravo e a Rosa” e “Chica da Silva”. “Chocolate com pimenta” eu vejo todos os dias na Internet, depois que chego em casa. E essa é a 3ª vez que passa a novela, não me canso.

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  2. É muito bom ler alguém falar com tanta propriedade em um assunto, não? E nós brasileiros, amando ou não, acompanhando ou não, somos obrigados a reconhecer a força das telenovelas em nossa cultura.

    Só sugiro uma correção no início do texto. A Paula já trabalha com telenovelas. Afinal, desenvolve uma análise super consistente e tem seu espaço em veículos na internet, sem falar na sua desenvoltura nas redes sociais! E isso é trabalho! E bem feito! ok, sou fã…

    Sucesso para as duas!

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  3. Ola Aline e Carol,

    Que bom que gostaram da entrevista.

    Aline, eu concordo com o pensamento do autor de comunicacao Martin Barbero. Ele foi um dos poucos que estudou esse produto sem preconceitos.

    Carol, a novela funciona como o teatro, o cinema. E nao acho que deve sr menosprezada. Mas devemos lembrar que existem novelas e novelas. Tem algumas realmente bem ruins!

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