Indigestão

Se ele ao menos soubesse o quanto relutei para escrever hoje. Desde aquele adeus, vivo no meio de aflições e angústias. Cheguei a um estado febril. Passei semanas anestesiada, tentando sobreviver com enjoos, como se algo não tivesse sido ainda digerido. E eu precisei escrever aqui. Como enfiar o dedo na garganta para vomitar depois de um porre. Mas o porre aqui é emocional. Visceral. Porque escrever “a gente” dói. Dói porque é como materializar algo. Algo que na minha cabeça ainda é bonito demais para acabar assim. Intenso demais para ser só isso. E escrever pede responsabilidade. Responsabilidade pelo não que eu não quero dizer. Pelo não que eu preciso quando o que eu mais queria era dizer sim. Quando queria apenas esquecer o mundo e viver “nós”. Viver talvez essas entrelinhas, entre nós, entre esses nós. Porque terminar uma história é quase fácil. Mas terminar no papel é um martírio. Mas é só assim que eu sei. É assim que eu faço. É assim que eu vivo. As coisas só começam ou terminam mesmo na ponta da caneta. E não pense que é fácil. Chego a sentir dor física. E quando acontece é quase insignificante perto do que sinto internamente. Calafrios e náuseas. Como se cada palavra saísse cortando, me rasgando a pele sem anestesia e penetrando no mais fundo, naquilo que eu tenho de mais íntimo. Naquele ponto do inexplicável. Aquele que só é possível chegar pela força da escrita.

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