Foi numa quinta-feira quando eu me levantei daquela mesa de bar com os olhos marejados e não quis mais olhar pra trás. Não quis mais o seu olhar. Naquele dia eu tive certeza que nesse mundo eu não tenho lugar. Sem rumo pelas ruas da cidade. Como uma puta ou um vira-lata sem dono. Querendo fugir, querendo me entregar pro primeiro que passasse pra me limpar. Pra me livrar dessa paixão barata. Pra expurgar esse amor imundo. Mas meu corpo é autônomo, não me permite escolhas e qualquer entrega seria vã. Qualquer homem seria como ir de volta pra você. Qualquer beijo que não fosse o seu me sufocaria. Qualquer toque que não o das suas mãos me deixaria enjoada. Eu só queria me esconder, me deixar esquecer. Quando dei por mim já estava dentro de um táxi a caminho da rodoviária. Indo pra onde não pudesse voltar. Foi sem pensar que entrei naquele ônibus só pra passar a noite em claro na estrada e ver o sol nascer em outro lugar. Até agora eu ainda não sei se queria mesmo era me livrar de mim ou de você.
Lugar qualquer

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