Ando pelos mesmos lugares em que estivemos e sinto um aperto como se o ar de repente ficasse rarefeito. Como se eu precisasse de um cilindro de oxigênio ou enfiar dois dedos na garganta para vomitar. Para expurgar esse veneno que insiste em permanecer aqui dentro. É que meu corpo ainda é despudorado com o sentir e insiste em te desejar todos os dias.
Você sabe que eu poderia acordar cada dia na cama de um, sendo despida e desejada por outros tantos. Até melhores que você. Mas seria uma violência contra mim. Porque em toda parte só o que me sobra são resquícios desse amor. Ridículo. Barato. Irracional. Imoral.
E nessa tentativa de arrancar essa coisa nociva que queima, lateja e sufoca, esgoto todos os recursos: volto à terrível compulsão por açúcar. Que só me faz sentir enjoada e culpada. Me odeio por quase um segundo. Mas aprendi a perdoar certas fraquezas.
Ando pelas ruas da cidade como se procurasse algo, mas confesso que tenho medo de te encontrar por acaso. E ver que aquele olhar que me desmanchava já não é mais o mesmo.
Tomo um porre. Não bebo vinho, que meu fígado tolera bem, mas escolho a vingança perfeita: vodca. Só que meu corpo se recusa. E o resultado é só um dia inteiro jogada no chão do banheiro com uma enxaqueca implacável.
Digo que vou juntar dinheiro, que são tempos de crise, mas o cartão de crédito é usado constantemente. Compro calcinhas. Pretas porque ainda é minha cor preferida. Mas agora elas ficam guardadas na gaveta.
Consulto horóscopo – Sol e Lua em Capricórnio é tragédia consumada no amor – e jogo tarot na esperança de um sinal, uma resposta. Imploro a Deus. Ouço músicas. Blues, Jazz e MPB. Depois apelo para as cafonas. E nem mesmo os livros conseguem me tirar dessa.
Escrevo. Sinto que, pelo menos por um momento, posso respirar novamente, que as batidas do coração voltam à pulsação regular, que o sangue circula normalmente pelas veias. Pelo menos até que comece tudo outra vez.