Volto àquele café onde estivemos juntos pela última vez. Sento na mesma mesa e escolho o mesmo vinho. Apenas como quem busca as últimas palavras em um velório. Só que desta vez o cadáver é o meu. Não sei quantas vezes morri e reencarnei desde aquela quarta-feira de novembro que mais parecia um pesadelo do qual eu ainda insistia em não acordar, mas sei que agora acabou. Pela primeira vez desde que você chegou eu deixei de acreditar. Tudo que me ocupa o peito é um vazio. Simplesmente não me importo mais. Tua falta já não sangra. O membro do amor foi amputado, arrancado como num parto à fórceps. Agora só aquela frase de Tsvetáieva insiste em martelar na minha cabeça, sem me deixar fugir, como que me levando de volta ao meu lugar: “De alguma maneira arrasto para o amor alguma coisa que faz com que ele não se realize, se disperse, se desfaça”.
Desencarne

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