Mais uma noite. Ainda teimo em arrancar peles dos lábios e cascas de machucados. Tento evitar, mas uma única lágrima insiste em escorrer quando o telefone dá sinal. Sabia que era você. Solto os cabelos pra não sufocar. Deito no chão frio enquanto ainda vejo tua imagem e, pouco tempo depois, ouço tua voz. Pareces tão seguro. Será que ainda pensas que não sei das tuas inquietações; das tuas noites de insônia a rolar na cama? Pensas que não sei do teu orgulho, da tua teimosia? Da tua dificuldade em te mostrar? Inteiro, vulnerável. Pensas que não sei do teu medo de parecer frágil e dar errado mais uma vez? Pensas que não sei do teu receio de chegar perto demais e não ser mais capaz de te soltar? Pensas que não consigo ver muito além dessa armadura que ainda teimas em trajar? Pensas que não sei que só te afastas de mim por medo de ti mesmo?
Tag: amor complicado
Ausência
Bonita
Os fios de cabelo cheios de luzes cobrem parte das costas, mas também da alma. Não deixam transparecer certas fragilidades por entre as fendas. O corpo bem delineado é alvo frequente de desejos. Eles me dizem linda, mas no fim sempre me deixam sozinha. Todos eles. Me largam numa esquina qualquer, me apontam o dedo. Me jogam na cara cada fraqueza e me denunciam todas as cicatrizes. Cada uma dessas dores é como uma tatuagem onde a pele é mais fina. Onde a alma mais dói. Me jogo no chão do quarto e enquanto tomo taças de vinho tinto leio Ana Cristina César: “Estou bonita que é um desperdício”. Porque aqui a beleza ainda é castigo pra carne de mulher. Enquanto eles comem cru porque tem medo do amor mais difícil.