Ainda pensas que não sei?

Mais uma noite. Ainda teimo em arrancar peles dos lábios e cascas de machucados. Tento evitar, mas uma única lágrima insiste em escorrer quando o telefone dá sinal. Sabia que era você. Solto os cabelos pra não sufocar. Deito no chão frio enquanto ainda vejo tua imagem e, pouco tempo depois, ouço tua voz. Pareces tão seguro. Será que ainda pensas que não sei das tuas inquietações; das tuas noites de insônia a rolar na cama? Pensas que não sei do teu orgulho, da tua teimosia? Da tua dificuldade em te mostrar? Inteiro, vulnerável. Pensas que não sei do teu medo de parecer frágil e dar errado mais uma vez? Pensas que não sei do teu receio de chegar perto demais e não ser mais capaz de te soltar? Pensas que não consigo ver muito além dessa armadura que ainda teimas em trajar? Pensas que não sei que só te afastas de mim por medo de ti mesmo?

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Ausência

Mais uma noite. Sozinha. Acordo ansiosa. O corpo inteiro molhado de suor. E por afrontamento do desejo é por ele que minha pele clama. E as palavras que ele me dizia ainda são as únicas que me fazem falta. Me recordo que já faz mais de um ano desde aquele beijo. Sem palavras, só olhares. Vontade pura e simples. Quando nenhuma promessa de futuro me fazia falta…
Eu sei. Sei que esse amor não era lá grandes coisas. Sempre tive certeza que nosso prazo de validade era curto. Mas sei também que o meio amor que eu tinha valia mais para mim do que o melhor de amor de qualquer homem.
E eu posso dizer que era feliz com fragmentos dele. Até que cansei de brincar de puta.
É que eu até tento, mas chega uma hora que não sei mais ser pela metade. Porque para um amor inteiro metade não satisfaz. Ainda que seja a melhor parte. A mais saborosa. Chega um momento que, de tão faminta, acabo morrendo de fome.

Bonita

Os fios de cabelo cheios de luzes cobrem parte das costas, mas também da alma. Não deixam transparecer certas fragilidades por entre as fendas. O corpo bem delineado é alvo frequente de desejos. Eles me dizem linda, mas no fim sempre me deixam sozinha. Todos eles. Me largam numa esquina qualquer, me apontam o dedo. Me jogam na cara cada fraqueza e me denunciam todas as cicatrizes. Cada uma dessas dores é como uma tatuagem onde a pele é mais fina. Onde a alma mais dói. Me jogo no chão do quarto e enquanto tomo taças de vinho tinto leio Ana Cristina César: “Estou bonita que é um desperdício”. Porque aqui a beleza ainda é castigo pra carne de mulher. Enquanto eles comem cru porque tem medo do amor mais difícil.

Sangrando I/Bleeding I

Acabou. The end. Sem palavras, sem adeus. Mas eu sei que, desde a última vez, algo em mim morreu. Como facada a sangue-frio diretamente num ventre de mulher. Sei que da próxima vez em que estivermos juntos trocaremos olhos cheios de fogo e desejo por cordialismo e abraços frios. O ar me falta, o peito aperta, a boca seca. Como naquele dia que você me levou pra longe e minha única vontade era ser tua. Tua mulher, tua fêmea. E meu útero não parava de sangrar, como se antes da alma, o corpo já soubesse que eu iria sair dessa história despedaçada. História essa que, desde o início, sabíamos já premeditada ao fracasso. Mesmo que, de qualquer maneira, eu ainda esteja intensamente ligada a você e que minha carne ainda tenha marcas desse nosso amor. Agora, mais uma vez, estou só. Perdida, largada, jogada às traças. Entregue ao meu próprio desespero, com as veias do coração dilaceradas. De volta às antigas cicatrizes que ainda sangram e me ardem tão profundamente.

Bleeding I

It’s over. The end. No words or goodbyes. But I know, since our last time, something in me died. Like stab into the womb of any woman. I know the next time we’re together we’ll exchange our fire and desire eyes for polite and cold hugs. The air lack, chest tightens, dry mouth. Like that day you took me away and my only desire was to be yours. Your woman. And my uterus would not stop bleeding, as if before the soul, the body already knew that I would leave shattered. But we knew, from the beginning, that this affair would be a failure. Even if, anyway, I’m still strongly connected to you and my body has marks that our love. Now, again, I’m all alone. Lost, dropped, thrown to moths. On my own despair, with torn veins of my heart. Back to the old scars that still bleed and hurts me so deeply.