Tag: amor que desatina
Cacos II
04:19
Outra madrugada. Deitada em posição fetal. Fecho os olhos mas o sono não vem. Meu único sonho é retornar ao útero. A saudade corrói como úlcera hemorrágica. Como um eterno regurgitar de sentimentos. Sinto tua falta como se tivesse me arrancado um órgão vital. Pareço bem, mas há falta em tudo que eu vivo. Todo ar não é o bastante para me fazer respirar. Toda multidão é solidão. Todos os homens do mundo ainda seriam insuficientes. Viver parece um pesadelo, como se todos os dias fossem 04:19 daquela quarta-feira, quando você me mandou embora, “me disse pra ser feliz e passar bem” como na canção do Chico.
Tua
É que não entendo como pode me deixar sozinha por tanto tempo. Não vê o quanto tua falta ainda dói, machuca e me faz sangrar? E da última vez eu te pedi para não me fazer sofrer mais. Mas você faz pior. Me deixa sozinha, entregue à esta solidão inexorável quando eu mais preciso de tua presença. Porque sabe que por mais que eu queira me livrar desse amor – e eu ainda me atrevo a chamar “isto” de amor? – não vou me entregar para outro. Porque ser de outro seria ser ainda mais tua. Mas não vê que, mesmo ainda sendo o único dono do meu corpo, do meu desejo, minh’alma clama por liberdade? Por entrega e amor de verdade? Alguma coisa em mim me exige muito mais do que as migalhas que você se arrisca a me dar.