Limite

Outra noite daquelas e cheguei no limite. Ou vou ao banheiro e vomito. Ou escrevo.
Mas preciso expurgar essa coisa insana de alguma maneira. Como quem rasga a pele com lâmina contaminada. Sem anestesia. Desejando penetrar no mais fundo. Porque tudo aquilo que o papel não suporta é incrustado na pele, pela exigência do desejo. Tudo isso por aquele homem. Aquele que tem aquela mistura de intelecto e violência que me desarma. Aquele para quem eu disse que já não me importo. Que já me acostumei com a ausência. Mentira. Ainda que eu evite pensar nele eu o sinto. Na minha ânsia. No meu corpo. Em cada poro da minha pele.

Juntos III

Essa paixão que explode em cada poro da pele. O cheiro e o toque das mãos impregnado nas curvas do corpo. Esse desejo que consome a alma, devora as entranhas. Toma conta. Deixa tudo sem controle. E tudo isso por esse amor ridículo. Sem nenhuma decência ou futuro. Amor com prazo de validade. E ainda assim é você que eu quero. E nessa louca insensatez eu confesso: eu tento escapar, mas é com você que eu me deparo quando a noite vem. Porque é o único pelo qual meu corpo clama e é pra você que minha alma está entregue.

Lugar qualquer

Foi numa quinta-feira quando eu me levantei daquela mesa de bar com os olhos marejados e não quis mais olhar pra trás. Não quis mais o seu olhar. Naquele dia eu tive certeza que nesse mundo eu não tenho lugar. Sem rumo pelas ruas da cidade. Como uma puta ou um vira-lata sem dono. Querendo fugir, querendo me entregar pro primeiro que passasse pra me limpar. Pra me livrar dessa paixão barata. Pra expurgar esse amor imundo. Mas meu corpo é autônomo, não me permite escolhas e qualquer entrega seria vã. Qualquer homem seria como ir de volta pra você. Qualquer beijo que não fosse o seu me sufocaria. Qualquer toque que não o das suas mãos me deixaria enjoada. Eu só queria me esconder, me deixar esquecer. Quando dei por mim já estava dentro de um táxi a caminho da rodoviária. Indo pra onde não pudesse voltar. Foi sem pensar que entrei naquele ônibus só pra passar a noite em claro na estrada e ver o sol nascer em outro lugar. Até agora eu ainda não sei se queria mesmo era me livrar de mim ou de você.

Juntos II

Porque adoro quando cola teus lábios sob os meus com fúria lasciva e me cala a boca. E me faz esquecer neuroses e bobagens. Quando ignora os meus caprichos e me deixa completamente vulnerável. Porque independente do que esse amor seja, o meu desejo não mais me pertence. Agora tudo é seu. E eu, que nunca quis ser objeto de posse de alguém agora me entrego de bom grado. De bandeja e bem servida. E quando estamos juntos a única coisa que me importa é a vontade e o calor desse homem. E quanto mais me tem em seus braços mais eu quero me dar. Mais eu desejo que me tenha. Inteira. Porque esse anseio é cada vez mais intenso e pungente. Um amor cada vez mais entregue. Frágil, profundo, devasso. Perverso. Humano.