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Para você
E só por hoje eu me permiti usar você no lugar do “ele”. Na verdade eu precisei. Porque você não entende quanto tudo isso é complicado para mim. Porque precisa me ler para entender. Para sentir do jeito que eu sinto. Porque para você tudo é simples. Mas para mim ainda é tão difícil. Porque estarmos juntos é difícil, mas estar sem você é ausência. É também estar sem mim. Porque ninguém antes havia me despertado tamanha intensidade de desejo. Tanta necessidade de sensação física. Física e emocional. Porque me trouxe esse anseio mais fervoroso. Conseguiu. Essa pulsação da alma que eu sempre busquei. Esse desejo que hoje se tornou vital. Mas só o que eu te peço é: apenas me ame. Ou me mande embora. Mas não diga que “me precisa”, não deixe que eu me apaixone. Por favor, não deixe eu me agarrar a esse amor para depois descobrir que ele acabou antes mesmo de eu saber. Antes mesmo de eu saber o que é te amar.
Juntos
E agora estamos juntos. Ele, com as mãos macias e quentes e os olhos famintos. E eu, que só sei mesmo fazer amor com as letras. Ele, que sabe exatamente como agir, enquanto eu fico meio desconsertada. O meu peito, que aperta e pede mais. Ele, que nem sei se se importa muito. É a minha cabeça que não sossega enquanto pra ele tudo é “normal”. Eu, que rabisco versos sobre amor mas ainda sou ingênua e ele, que sabe como o mundo realmente funciona. Eu, que vivo no meio de angústias e conflitos e que, nesse momento, vejo que não sou mais do que aquela mulher da rua. Vadia, com corpo vazio, sem dono, sem amarras, sem chão. Mas é ele. Ele, que nem me conhece tão bem, e ainda assim, quase consegue me fazer perder a razão. É afago nos cabelos e beijo no pescoço. É tatuagem, vontade e pele. Corpo quente. Barba roçando, pele arrepiada e querer mais. É desejo que conquista mas ainda não sacia.
Sem ar
É que os olhos dele, quando me olham, são como se me despissem, como se arrancassem de mim qualquer proteção. Como se, apenas com o olhar, ele rasgasse minha roupa e as minhas defesas. E, de repente, ele me toma como refém. Sequestra os meus sentimentos. Não sou dona de mim. Não me controlo. Porque meu desejo agora é dele e meu corpo só faz responder aos estímulos. Porque eu o quis desde o primeiro momento. Mas eu também não queria. Eu evitei. Evitei porque sabia que não podia suportar. Porque meu corpo sossega colado no dele. Porque os meus lábios abrem-se junto aos dele. Porque não o quero, mas necessito. Preciso pra não sufocar. Porque longe dele o ar fica rarefeito e perto dele eu fico sem ar.