Domingo. Lá fora gritos de torcedores e música alta. Pareço mesmo viver à parte porque alheia a todos os estímulos, só a frase daquele filme sobre Emily Dickinson que assisti há 2 semanas, ainda insiste em martelar na minha cabeça, como se estivesse introjetada no corpo: “nós, que nascemos privados de um tipo específico de amor, lidamos melhor com a falta”. Todas as feridas e frustrações me aparecem como num turbilhão. As lágrimas de hoje borram a maquiagem de ontem. Você não me disse nada. Nem me deu a mão pra me ajudar a cuidar de mim. E ainda assim eu não te peço nada. Agora eu só quero ir embora.
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Refém
Refém. Presa em um labirinto tortuoso e minha última chance de escape é escrever sobre nós. Mas essa intensidade de sentimentos ainda é tão maior do que minha capacidade de traduzir em palavras. Talvez porque sentimentos assim não possam ser transpostos para a linguagem dos humanos comuns.
Porque escrever o que se sente é doloroso e contar essa história é sentir de novo. Sentir tudo aquilo que eu tenho evitado na última semana. É rasgar-me inteira sem anestesias.
Porque suas palavras entraram em mim como punhal abrindo a pele em carne viva. Como seringa contaminada não descartada. Dor lancinante.
Doença sem remédio para uma mulher que não foi talhada para amores possíveis.
Porque mesmo depois daquele nosso adeus eu acreditei que ainda poderíamos ser.
Mas se nessa noite eu ainda estou aqui, sozinha, rabiscando essas linhas tortas é porque algo ainda não está em seu lugar. Porque se não é você que pode acalmar esses desejos inquietos eu ainda estou em cárcere. Cárcere privado. Liberdade provisória. Desejo que continua sem resposta.
Ⱥ mulher
Foi pouco e eu preciso de mais. Preciso de tão mais pra me fazer sentir de verdade.
Mas eu sei. Só eu posso me livrar desse martírio de viver sentindo em excesso.
Eu, que sozinha sou mulher, que enquanto só, posso ser eu.
E eu ainda sou. Nesse desespero de me livrar de mim acabo sendo mais eu.