Juntos IV

Mais uma vez. Juntos. E mais uma vez eu não quero nem te peço promessas. Porque eu nunca acreditei mesmo nas juras que eles se cansam de fazer e nunca cumprir. Mas eu ainda preciso de entrega. De verdades, intensidades e sentimentos completos. Tenho horror de qualquer coisa pela metade. E talvez você não perceba, mas eu sou toda urgência, “o meu coração selvagem tem essa pressa de viver”. E eu ainda não sei porque, mas só pra você eu me dou assim, tão inteira. Dou meu corpo, meu desejo. Minha alma. Meu amor. Pra você fazer o que quiser. Mesmo sabendo que vai doer outra vez. Eu não me engano. Sei que esse amor é contramão, que nosso desejo é leviano. Mas é que enquanto você é calmo, e sabe o tempo das coisas, sabe “que o amor não tem pressa, ele pode esperar”, eu ainda sou cheia de sonhos, desejos e rompantes. E tem certas coisas sobre mim que nem eu mesma sei lidar. Por trás do meu sorriso residem inseguranças e dúvidas. Mas ainda é com você que o máximo da mulher em mim transborda. De alguma forma, é só com você que me sinto mais minha.

(In) decência

Ainda me pergunto como pôde me deixar assim. Será que não vê que, depois da sua partida, cada noite é uma tortura? Qualquer outro homem teria o mínimo de decência. Qualquer outro não me deixaria. Ou, pelo menos, me deixaria com mais cuidado. Me daria banho, enxugaria minhas lágrimas, me colocaria para dormir e me cobriria ternamente antes de sair pela porta. Mas depois que você chegou eu nunca mais me importei com outros homens. E tudo que você fez foi ir embora. Como quem sai na calada da noite pela porta dos fundos porque falta coragem para encarar. Para abrir a porta da frente. Para escancarar as verdades. Felizes aqueles que preferem desviar o olhar. Felizes aqueles que não se entregam. Felizes aqueles que sentem pouco. Eu não. Em mim tudo é excesso.

Ausência

Mais uma noite. Sozinha. Acordo ansiosa. O corpo inteiro molhado de suor. E por afrontamento do desejo é por ele que minha pele clama. E as palavras que ele me dizia ainda são as únicas que me fazem falta. Me recordo que já faz mais de um ano desde aquele beijo. Sem palavras, só olhares. Vontade pura e simples. Quando nenhuma promessa de futuro me fazia falta…
Eu sei. Sei que esse amor não era lá grandes coisas. Sempre tive certeza que nosso prazo de validade era curto. Mas sei também que o meio amor que eu tinha valia mais para mim do que o melhor de amor de qualquer homem.
E eu posso dizer que era feliz com fragmentos dele. Até que cansei de brincar de puta.
É que eu até tento, mas chega uma hora que não sei mais ser pela metade. Porque para um amor inteiro metade não satisfaz. Ainda que seja a melhor parte. A mais saborosa. Chega um momento que, de tão faminta, acabo morrendo de fome.

Feridas

Reviro as gavetas e encontro. Aquela calcinha. Puxo sem dó e com violência rasgo um por um os fios da renda como se esse ato pudesse também arrancar do meu coração a tua presença que insiste em permanecer. Porque cansei de dormir e acordar dia após dia suportando essa dor ridícula como a de feridas profundas e infeccionadas, cheias de secreções e pus à flor da pele.
É que você não sabe, mas enquanto jorram essas palavras sinto cada dor, cada fisgada emocional como quem arranca espinho por espinho e deixa a pele em carne viva. O peito aperta a cada respiração e o estômago sangra e dói tanto quanto a alma. A cabeça revira e as veias dilatam cada vez que tento entender porque e ainda me questiono e suplico a não sei quem por uma resposta para algo que não consigo deixar pra lá como eles se conformaram a fazer. É que a minha maneira de amar é deturpada para os dias atuais. A mediocridade não tem espaço na minha vida. Eu ainda preciso de sentir mais do que simplesmente ligar o piloto automático e deixar acontecer.