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Para você
E só por hoje eu me permiti usar você no lugar do “ele”. Na verdade eu precisei. Porque você não entende quanto tudo isso é complicado para mim. Porque precisa me ler para entender. Para sentir do jeito que eu sinto. Porque para você tudo é simples. Mas para mim ainda é tão difícil. Porque estarmos juntos é difícil, mas estar sem você é ausência. É também estar sem mim. Porque ninguém antes havia me despertado tamanha intensidade de desejo. Tanta necessidade de sensação física. Física e emocional. Porque me trouxe esse anseio mais fervoroso. Conseguiu. Essa pulsação da alma que eu sempre busquei. Esse desejo que hoje se tornou vital. Mas só o que eu te peço é: apenas me ame. Ou me mande embora. Mas não diga que “me precisa”, não deixe que eu me apaixone. Por favor, não deixe eu me agarrar a esse amor para depois descobrir que ele acabou antes mesmo de eu saber. Antes mesmo de eu saber o que é te amar.
Indigestão
Se ele ao menos soubesse o quanto relutei para escrever hoje. Desde aquele adeus, vivo no meio de aflições e angústias. Cheguei a um estado febril. Passei semanas anestesiada, tentando sobreviver com enjoos, como se algo não tivesse sido ainda digerido. E eu precisei escrever aqui. Como enfiar o dedo na garganta para vomitar depois de um porre. Mas o porre aqui é emocional. Visceral. Porque escrever “a gente” dói. Dói porque é como materializar algo. Algo que na minha cabeça ainda é bonito demais para acabar assim. Intenso demais para ser só isso. E escrever pede responsabilidade. Responsabilidade pelo não que eu não quero dizer. Pelo não que eu preciso quando o que eu mais queria era dizer sim. Quando queria apenas esquecer o mundo e viver “nós”. Viver talvez essas entrelinhas, entre nós, entre esses nós. Porque terminar uma história é quase fácil. Mas terminar no papel é um martírio. Mas é só assim que eu sei. É assim que eu faço. É assim que eu vivo. As coisas só começam ou terminam mesmo na ponta da caneta. E não pense que é fácil. Chego a sentir dor física. E quando acontece é quase insignificante perto do que sinto internamente. Calafrios e náuseas. Como se cada palavra saísse cortando, me rasgando a pele sem anestesia e penetrando no mais fundo, naquilo que eu tenho de mais íntimo. Naquele ponto do inexplicável. Aquele que só é possível chegar pela força da escrita.
Juntos
E agora estamos juntos. Ele, com as mãos macias e quentes e os olhos famintos. E eu, que só sei mesmo fazer amor com as letras. Ele, que sabe exatamente como agir, enquanto eu fico meio desconsertada. O meu peito, que aperta e pede mais. Ele, que nem sei se se importa muito. É a minha cabeça que não sossega enquanto pra ele tudo é “normal”. Eu, que rabisco versos sobre amor mas ainda sou ingênua e ele, que sabe como o mundo realmente funciona. Eu, que vivo no meio de angústias e conflitos e que, nesse momento, vejo que não sou mais do que aquela mulher da rua. Vadia, com corpo vazio, sem dono, sem amarras, sem chão. Mas é ele. Ele, que nem me conhece tão bem, e ainda assim, quase consegue me fazer perder a razão. É afago nos cabelos e beijo no pescoço. É tatuagem, vontade e pele. Corpo quente. Barba roçando, pele arrepiada e querer mais. É desejo que conquista mas ainda não sacia.